Pós-Sacre | filme (2021)
Sinopse
Ela disse: eu a vejo de cima, deitada na terra.
Ela disse: como é essa luz, quando a gente pensa nas pessoas que já morreram?
Ela disse: é uma luz constante, digo, como num deserto em que não anoitece nunca.
Ele disse: é um horizonte alto.
Ela disse: e por que deixaram que ela morresse assim, sozinha? Por que só ficaram assistindo?
Ele disse: e no dia seguinte? Como foi na manhã depois que ela morreu?
Ela disse: é uma acumulação de energia. Uma matemática, mas que leva a um estado que já não pode ser medido muito bem.
Ela disse: é um corpo que se move, mas que não chega a lugar nenhum.
Ele disse: quero matar as coisas pelas quais me reconheço.
Ele disse: tem uma gravidade nos momentos que antecedem o fim. Uma gravidade do ser mesmo, uma melancolia, como no olhar que os outros bichos nos lançam um pouco antes de morrer.
Ela disse: os sacrifícios são experiências que ficam no corpo. Eles deixam marcas.
Ele disse: ela precisa medir o espaço com o próprio corpo.
Ela disse: repetir, repetir, até chegar a alguma coisa que seja diferente.
Ela disse: todos só olham para essa morte, para o final. Mas antes tem uma vida inteira.
Ela disse: são muitas imagens que passam, só que nenhuma tem protagonismo.
Ele disse: é erótico, mas porque é fértil.
Ela disse: na natureza, o ouro é um metal que geralmente vem puro.
Ela disse: se eu fosse uma árvore, minha raiz só poderia ser o osso sacro.
Ela disse: uma mulher sai do escuro. Pedras amarradas. De que algo aconteça, de que algo mude.
Ela disse: são mãos que nunca se tocam. Como seria um corpo que nunca sentiu um outro toque?
Ela disse: Uma oferenda não pode ser uma barganha.
Ele disse: esta madeira, esta árvore, ela está viva ou morta?
Ela disse: são tantos ritmos que, quando se percebe, o espaço mudou.
Ele disse: sempre que deixamos algo para a terra, ela cuida.
Ela disse: é um círculo, mas que tende para dentro de si. Se isso fosse possível.
Ele disse: ainda não sei como esse corpo se levantou do chão.
Duração 24’
Video
Ficha técnica
Montagem Natália Belasalma de Oliveira
Direção Fábio Furtado e Ricardo Gali
Performers Carolina Canteli, Danielli Mendes, Daniela Moraes, Flora Barros, Jean Valber, Layla Bucaretchi, Lucas Delfino, Rafaela Sahyoun