Um homem sem um nome (2020)
O projeto que culminou no videodança “O homem sem um nome” foi contemplado pelo PROAC – Programa de Ação Cultural – Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa, Edital Criação Dança 2019, recebeu o VIII Prêmio Denilto Gomes de dança por melhor Roteiro e Direção
Inicialmente, o projeto consistia na criação de uma performance de dança solo, parte da pesquisa de Ricardo Gali, diretor da companhia Perversos Polimorfos. Em decorrência da pandemia de Covid-19 e das limitações impostas às artes do palco, foi feita a proposta de transposição do espetáculo para o cinema, iniciativa apoiada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo.
O trabalho de criação do filme, desde seu roteiro à abordagem de cinematografia, partiu das questões disparadoras do projeto inicial de dança solo, propostas por Ricardo Gali em sua pesquisa pessoal:
– “É possível esquecer-se de si?”
– “Ao esquecer-se de si, é possível libertar o movimento?
– “Como atuam os mecanismos humanos de transformação de uma identidade?”
– “Esquecer-se de si é uma possibilidade para um novo começo que se deseja?”
– “Como pode ser construída a ideia de uma coreografia documental com uma temática ficcional?”
– “Inversamente, como pode ser construída uma coreografia ficcional partindo de uma temática documental?”
A partir dessas perguntas, uma série de conversas entre Ricardo e Fábio Furtado foram gravadas, após as quais se determinou um roteiro de base e a abordagem fotográfica, bem como alguns conceitos sobre a atmosfera geral do filme. Com esses materiais e também por meio de conversas online, as coreógrafas e dançarinas Daniela Moraes e Carolina Canteli propuseram suas partituras e exercícios, em busca de certas qualidades de presença e gesto, bem como de uma mudança de movimentação ao longo do filme. Durante o mês e meio de filmagens, as cenas e experimentações de câmera eram compartilhadas com Natalia Belasalma, que assina a edição, com as coreógrafas e equipe como um todo, para auxiliar na construção do trabalho em tão pouco tempo e com as limitações da pandemia.
A trilha original, composta pelo músico Lourenço Rebetez, parte de elementos definidores da música eletrônica para incorporar camadas de atmosfera sonora e elementos disruptivos, como determinados toques do candomblé e da música tradicional do oriente médio e Índia. Embora dialogue diretamente com práticas da cultura eletrônica, que frequentemente mesclam diferentes tradições musicais (como no “mashup”, por exemplo), na trilha de Rebetez tais elementos são constitutivos desde o começo. Menos colagem, mais construção que busca romper com certa previsibilidade, muitas vezes presente na música eletrônica, em prol da possibilidade moderna de transe e seus dispositivos.
A fotografia inspirou-se em parte no trabalho da fotógrafa alemã Barbara Probst, que utiliza várias câmeras disparadas simultaneamente, por vezes enquadrando partes inesperadas de uma cena. No cinema, a presença simultânea de muitas câmeras é comum, embora geralmente com finalidades bastante previsíveis, como a cobertura de uma cena para a variação de cortes previstos no roteiro. A ideia então foi romper com a previsibilidade da “cobertura” de cena com ângulos incomuns, mas de maior expressividade fotográfica, gerando diferentes espacialidades dentro de um mesmo espaço. Cria-se também a sensação de que o próprio espaço observa a personagem em sua busca solitária.
A iluminação, a cargo de Aline Santini, que também faz parte da Perversos desde sua fundação, embora não exista no cinema como a função específica que tem nas artes do palco, aqui teve sua mais feliz conjunção. O absoluto domínio técnico da artista, mais sua formação em fotografia, contribuíram para a criação da atmosfera do filme, especialmente a cromática, e a consequente sensação por vezes onírica das cenas conforme vão se construindo até a balada final – balada de um homem solitário em seu curioso percurso por libertar-se de si.
Duração 36 minutos
Video
Ficha técnica
Concepção do projeto Ricardo Gali
Roteiro e direção Fábio Furtado e Ricardo Gali
Colaborações coreográficas Carolina Canteli e Dani Moraes
Direção de fotografia Fábio Furtado
Edição Natalia Belasalma
Iluminação Aline Santini
Trilha sonora Lourenço Rebetez
Som direto Fábio Furtado e Paulo Chicareli
Edição de som e mixagem Marília Mencucini
Mixagem da trilha original Frederico Pacheco
Colorização Guilherme Begué
Finalização Woikirri
Assistência de fotografia Paulo Chicareli
Assistência de direção do projeto Layla Bucaretchi
Figurino Ricardo Gali
Colaboração em set Felipe Dias
Design gráfico Fernando Bizarri Requena – Estúdio Brita
Gestão de produção José Renato Almeida – Cais Produção